ESSA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: MAIS UMA TRAGÉDIA BRASILEIRA?
DOI:
https://doi.org/10.47249/rba.2015.v1.69Resumo
As reflexões apresentadas neste texto se baseiam na análise da configuração textual do documento Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2015a, 301 p.), disponível para receber críticas, comentários, sugestões e propostas, por meio da plataforma “consulta pública”, no Portal MEC.
Com o objetivo de fundamentar meu posicionamento contrário a essa BNCC (com destaque para aspectos relativos ao componente curricular Língua Portuguesa, em especial alfabetização), a análise é conduzida pela problematização do que considero ser a contradição de base que inviabiliza a efetivação, de forma coerente e consequente, de sua finalidade de se constituir, com “força de lei”, como concretização de anseios históricos para a educação brasileira. De forma complementar, evidencia-se a equivocada identificação, por parte das autoridades do MEC, entre o “amplo debate” proposto e a “consulta pública” em curso.
Possivelmente, a contradição mencionada esteja também, de forma direta ou indireta, na base dos muitíssimos posicionamentos críticos sobre a BNCC sistematizados e divulgados por respeitados educadores e entidades científicas e educacionais, assim como dos muitos comentários críticos que têm circulado em diferentes mídias impressas e eletrônicas como também entre pesquisadores e professores. Para a maioria destes, as críticas ao documento são sintetizadas principalmente na classificação desqualificativa “colcha de retalhos”, em referência ao seu sentido figurado corrente: ajuntamento de partes desconexas ou incoerentes entre si, que resultam num todo desfigurado e sem sentido.
Partilho de muitos desses posicionamentos críticos, embora com discordâncias em relação a alguns dos argumentos neles apresentados e, em especial, à classificação mencionada. Além de não dar conta da complexidade dos problemas do documento em análise, essa classificação tende a desqualificar aquela técnica artesanal, que, embora pareça “simples” e “desconexa”, envolve sofisticados processos de planejamento e execução, o que não se verifica na BNCC apresentada pelo MEC.
Por meio da expressão "configuração textual", busco nomear o conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto, os quais se referem: às opções temático-conteudísticas (o quê?) e estruturais-formais (como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento histórico (quando?), movido por certas necessidades (por quê?) e propósitos (para quê?), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) e logrando determinado tipo de circulação, utilização e repercussão.[1] É, portanto, a análise integrada desses aspectos que propicia reconhecer e interrogar determinado texto [e] dele produzir uma leitura possível e autorizada, a partir de seus próprios objetivos, necessidades e interesses. (MORTATTI, 2000, p. 31)
Inicialmente previsto para o dia 15/12/2015, o prazo para consulta pública foi estendido para 15/03/2016. Alguns trechos deste texto foram utilizados nos documentos sobre a BNCC, para os quais contribuí e que foram elaborados pela Comissão de Ensino da FFC e pela Pró-Reitoria de Graduação da UNESP, tendo sido encaminhados ao MEC por meio da plataforma mencionada.
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Referências
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Aceito em 2016-05-11
Publicado em 2015-12-31